Michael Winetzki, MI, 33º da ARLS Tríplice Aliança nº 341, Mongaguá, SP e da AMVBL
Uma das razões mais frequentes para a curiosidade de muitos e a preocupação de alguns com relação à maçonaria é o aparentemente inviolável “segredo” que acoberta a Ordem. É interessante observar que todos os tipos de associações também têm os seus segredos, desde as diversas instâncias de governo até as entidades religiosas, mas estes segredos são encarados como um fato normal.
O que será que a nossa vetusta instituição está escondendo em uma época e em uma sociedade tão fortemente baseadas em comunicação, relacionamentos e compartilhamento de informações, internet, Facebook e Whats App?
Com relação a sinais, toques e palavras, em todos os ritos e graus, tudo já foi desvendado e encontra-se à disposição dos curiosos em livrarias e bancas de jornais, em revistas e livros, além das dezenas de “picaretagens” travestidas de maçonaria, que anunciam na mídia a captura de incautos.
O objetivo principal da maçonaria é transformar o homem para melhor e tornar feliz a humanidade, através de um encadeamento de ensinamentos esotéricos e exotéricos, transmitidos pelo método iniciático e que se dirigem mais ao inconsciente do que propriamente à razão. A ideia é sensibilizar o espírito de forma que o neófito viva um despertar espiritual que principia quando ele “vê a luz” e que prossegue durante a aquisição dos sucessivos graus, através da interpretação dos símbolos, alegorias e metáforas dos rituais, na filosofia e na história, na ação social e política e na fraternidade e beneficência da Ordem e que vão construindo um “núcleo de conhecimentos”, uma escola iniciática, que forma o real cabedal de influência, prestígio e respeito de que goza a maçonaria.
A nossa Ordem é a herdeira da cultura simbólica de muitas das civilizações que nos antecederam e que buscaram transmitir e acrescentar ensinamentos aos registros akáshicos, uma espécie de banco de dados atemporal que contém as memórias do inconsciente coletivo da humanidade. Historicamente esse tipo de ensinamentos é transmitido desde a mais remota antiguidade, por todas as religiões e cultos, através de “iniciações” e “rituais”, como batismos, ritos de admissão e ritos militares, casamentos, viagens simbólicas, sacrifícios, etc., que se destinam a abrir a mente e preparar o iniciando para as mensagens que deverá receber e que serão muito mais sentidas do que entendidas, mais dirigidas à sensibilidade do que à razão.
Os numerosos símbolos de todos os ritos, de uma maneira geral, são evidentes por si mesmos, auto explicativos, como a cruz cristã, por exemplo. Mas no caso das sociedades iniciáticas, que tem seus próprios ritos e símbolos e que são destinados a um público escolhido, seus significados metafísicos são ocultos ou velados e por esta razão despertam curiosidade geral.
As iniciações, historicamente, são baseadas na observação da natureza e tem início com uma morte simbólica, ritual. Assim como a semente lançada à terra que imersa na escuridão recebe os nutrientes que a farão germinar e brotar em direção à luz do sol onde a planta renascerá. O profano recebe os nutrientes de forma alegórica através dos símbolos e metáforas que irão despertar no seu espírito conhecimentos atávicos, sentimentos de pertencimento, nobreza e bondade que o farão renascer como um novo homem, transformado, que viu a LUZ.
Esses conhecimentos, chamados antigamente de “grandes mistérios”, eram transmitidos por escolas filosóficas de forma ritualística a poucos escolhidos, de maneira que essas tradições fossem perpetuadas por pessoas que as pudessem entender e não as tentassem distorcer ou modificar. Aliás a palavra Kabalah, ciência metafísica tão cara à Maçonaria, significa “o que foi transmitido” ou “por tradição”. Assim também foram a Escola Pitagórica, a obra de Hermes Trimegisto, a Grande Fraternidade Branca da Biblioteca de Alexandria e outras tantas Ordens que coletaram, guardaram e nos legaram aquilo que de melhor o homem aprendeu na observação da natureza e nos primórdios e desenvolvimento das ciências. Esses locais se tornaram as primeiras universidades e centros de formação de líderes onde se ensinavam retórica, matemática, astronomia, geometria, medicina, arquitetura, filosofia, etc. e onde o saber acumulado por estas civilizações foi desenvolvido e preservado.
São irrelevantes portanto a divulgação pública dos sinais de reconhecimento ou dos rituais, pois neles não se encontra o segredo. Somente os homens transformados pela maçonaria, os que passaram pelas iniciações, cujas mentes e espíritos foram lapidados pelo conhecimento e pela fraternidade que nos une a todos como verdadeiros irmãos, conseguem entender. A aquisição passo a passo destes ensinamentos, a evolução por eles proporcionada, o rigoroso código de ética e conduta que obriga a cada irmão, a disciplina que deve ser praticada nas sessões, os juramentos de apoio e solidariedade recíprocos, o compromisso comum de tornar melhores o mundo e os homens que nele vivem, formam a essência do segredo, e só podem ser entendidos por quem trilhou todo o caminho.
Em todas as oportunidades em que pessoas não preparadas tiveram acesso a um “núcleo de conhecimentos” sua essência foi deturpada, desviada ou perdida. Por esta razão, os segredos que protegem a nossa Ordem devem ser conferidos através da iniciação, cerimonia comum em quase todas as escolas filosóficas. E os juramentos que então fazemos nos predispõe espiritualmente a aceitar e a entender os ensinamentos recebidos, a aceitar participar de um grupo de homens escolhidos que através da luz recebida evoluem como indivíduos e transformam para melhor a sociedade.
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